quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tributo ao amigo Lulu.

Hoje mais um colega aposentou-se no meu local de trabalho, no meu setor. Luiz Alfredo, um grande profissional, um grande técnico, e um grande amigo. Companheiro de almoço, de todos os dias, nos últimos anos. Lulu, como todos o chamam carinhosamente, é uma pessoa incrível. Foi professor de ciências nas escolas de ensino fundamental e secundário. Mora em Guaíba, uma cidade que fica a 27 Km de Porto Alegre, na outra margem do Rio Guaíba, junto com sua esposa, e muito próximo dos filhos e netos. Nesta data, completou 35 anos de contribuição à Previdência e 30 anos de serviços prestados à mesma empresa.

Nossa amizade sempre foi muito grande. Eu sempre adorei a hora do almoço, pois além de ser uma hora sagrada, nossos papos eram profundos. Falávamos sobre inovações da tecnologia, fotografia, viagens, coisas da vida, filosofia e comportamento humano. Nunca faltava assunto, e poderíamos ficar dias conversando sem parar. A troca de idéias sempre foi muito intensa, e como ele escreveu em sua mensagem de despedida, que eu, talvez, não fizesse idéia o quanto os nossos papos contribuiram para sua vida, sendo que eu respondi a ele a mesma coisa.
A aposentadoria é uma nova etapa da vida de uma pessoa, uma mudança tão radical, que deve ser planejada para que a pessoa não sinta tanto os reflexos dessa mudança. Eu comparo com um preso que ganha a liberdade, e se não souber o que fazer com ela, pira. Mas Lulu sabe o que fazer. Ele disse-me que agora vai ter o tempo para fazer suas coisas, coisa que nunca teve, que vai poder ver os netos crescerem, já que os filhos ele não viu, pois estava sempre viajando a trabalho, que pretende viajar muito, e fotografar tudo o que de mais lindo esse mundo pode mostrar. Conseguir aposentar-se sem precisar trabalhar para complementar a aposentadoria, hoje no Brasil, é uma dádiva. E isso só é possível, porque contribuímos para um plano de previdência privada, que permite ao funcionário receber seu sálario integral, com se estivesse trabalhando. Claro que nem tudo é um mar de rosas, pois essa renda vai sendo corroída no decorrer dos anos, pois os aumentos dos aposentados não são os mesmos do pessoal que está na ativa. Mas com o dinhero que ele vai levar por ocasião da aposentadoria, se bem administrado, e sei que ele vai administrar bem, dá para levar uma vida confortável até o fim.
Mesmo nesses vinte e dois anos trabalhando na mesma empresa, vendo muitos colegas aposentarem-se, eu não penso em aposentadoria. Faltam muitos anos para mim, muitas leis ainda podem surgir dificultando a aposentadoria, principalmente, avançando a idade mínima para aposentar-se, e pensar em aposentadoria, agora, seria esperar, simplesmente, a vida passar. Tenho muito o que crescer profissionalmente, tenho muito tempo de trabalho pela frente para isso, e gosto do que faço, mas ver colegas mais velhos atingirem a liberdade é extremamente gratificante.
Ao mesmo tempo que feliz pelo Lulu por atingir sua liberdade, fiquei triste pela perda do companheiro de trabalho e amigo. A vida tem ensinado-me que as pessoas aproximam-se por vínculos e afinidades. Os vínculos podem ser o local de trabalho, ser vizinho, colegas de colégio ou faculdade, colegas de cursos de especialização de 2 anos, entre outros. Às vezes, um pequeno curso com as mesmas afinidades, podem juntar as pessoas de uma forma explendorosa. Mas aprendi que, mesmo com muitas afinidades, a quebra do vínculo acaba por afastar as pessoas. Assim acontece com aquele vizinho que tornou-se um grande amigo, mas muda de prédio, entre os colegas de colégio, faculdade, ou quaisquer encontros que criam vínculos entre as pessoas. Não me iludo mais que as pessoas mantém a mesma afinidade quando os vínculos se quebram, apesar de fantasiarmos sempre que nada mudará. É natural, e faz parte da vida, e se você pensar bem, já deve ter experimentado esse tipo de quebra de relação. Senti isso, recentemente, quando participei de uma festa de 24 anos de formatura do curso de Engenharia Civil. Formei-me novinho. Com apenas 23 anos de idade, eu e meus colegas já éramos engenheiros. Hoje o pessoal está se formando mais tarde, e muitos estão fazendo seu primero curso de graduação com 30 anos de idade. Mas, enfim, foi triste sentir na festa de comemoração de aniversário de formatura a quebra da afinidade. Colegas, que eram muito amigos, só falavam das coisas do passado, os caminhos seguidos, mas não tinham mais presente juntos, sequer um passado recente. A vida é assim mesmo, mudamos, nos renovamos, nossos relacionamentos se renovam, fazemos novos amigos, novos relacionamentos, novos interesses, novos amores, novas paixões.
Sabendo disso, no último dia de trabalho do meu colega e amigo, trocamos telefones, endereços, e e-mails, mas eu sabia que eram nossos últimos momentos de extrema amizade e afinidade. Na despedida, no final do expediente, dei-lhe um abraço apertado, agradeci-lhe por ter tido o privilégio do seu convívio, disse-lhe o quanto ele havia sido um grande colega e amigo, o quanto ele tinha contribuído na minha vida, e disse-lhe, também, que eu havia passado na vida dele com a vontade de ficar. Alguém pode dizer que não é assim, que pode ser diferente, mas a vida tem me mostrado que é assim. É um sentimento diferente, não posso dizer que é triste, nem que é alegre, mas é diferente, pois a vida tem me mostrado como o tempo e a distância acabam com as afinidades de grandes amigos, nem que seja aos poucos. Sei que entre eu e o Lulu vai ser assim, pois apesar de muitas afinidades, o vínculo do trabalho era quem nos aproximava todos os dias.
Lulu, que Deus te abençoe e te proteja sempre, que você seja sempre muito feliz, com muita saúde, no convívio da tua esposa, por quem eu sei que você é apaixonado, de teus filhos, netos, e dos novos amigos que você conquistará nessa nova etapa da vida. Foi um privilégio ter te conhecido, ter convivido contigo durante todos esses anos, e pela contribuição e os momentos felizes que você proporcionou na minha vida.
Para finalizar, trancrevo abaixo um texto do grande poeta gaúcho, Mario Quintana, a qual o Lulu finalizou sua mensagem despedida para os seus colegas e amigos, dando-nos a sua última mensagem de sabedoria, enquanto colega de trabalho:
O tempo







"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê, já passaram-se 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo:

Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."

Mario Quintana (por Lulu).

14 comentários:

  1. Linda homenagem!!! É assim mesmo, os caminhos da vida nos unem e nos separam. É a roda-viva. Bjsss

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  2. adorei o seu blog. adorei a forma como escreve. e nem é meu hábito ler textos tao grandes mas esse seu texto valeu a pena.

    um grande abraço virtual para você e para Lulu (em pensamento).

    vou-te linkar

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  3. Boa tarde, amigo Paulo.

    Que maravilha de texto emocionante...
    Certamente o Lulu fez muita gente chorar nessa despedida.

    Como você disse, as circunstâncias acabam quebrando as afinidades, porque a vida vai escrevendo novas histórias para cada um.

    O importante é manter sempre atualizado, todos os meios de contato, como você fez.

    Quando a vida dispersa nossos amigos e colegas, e não sabemos mais como encontrá-los, o que sobra é uma angústia danada.

    Parabéns pela sua sensibilidade, e pela coragem de dizer o que sente, de coração aberto.

    Imagino o que você sentiu. Um grande afeto, seguido de uma grande dose de desapego forçado.

    É sentir no presente, a dor de uma nostalgia futura.

    Nossa... um grande abraço, amigo!

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  4. Paulo, Caríssimo!

    Que honra tem o Lulú, de ter um amigo como você heim menino?!Muito bacana!homenagem ao amigo e caro colega Lulú. Parabéns Lulú! dever cumprido. Conte ao seu amigo,sua amiga IT não usa e, não gosta de relógios e, sabe porque? tive oportunidades de viver novamente, por isso. Essa já é uma outra história! quem sabe um dia eu conto aqui. rs

    Abraços, beijos com admiração, que tenho por você. Obrigada pelo seu carinho e apreço.

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  5. Amigo é mesmo isso. A vossa rivalidade com a Argentina é a mesma que nós temos com a Espanha! Já reparou que mesmo em dimensões completamente diferentes, estamos ambos rodeados por "espanhóis"? Voces por Venezuela, Colombia, peru, paraguai, uruguai e Argentina e nós por Espanha?! impossível gostar dessa gente.. rsrsrs..

    Abraço

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  6. Paulo,

    Nem todo mundo tem um coração tão entupido de sentimentos bons como o seu. O querer bem que sentimos por alguém, realmente transcende qualquer barreira, inclusive a do tempo.

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    Alexa Meade pinta pessoas e objetos de uma forma real e transformada. Para entender melhor, só vendo e depois diga se não é uma coisa diferente de tudo aquilo que você já viu.

    'Ao invés de pintar um quadro de representação em uma tela plana, Meade pinta a imagem de sua representação diretamente em cima de seus súditos tridimensional. O tema e sua representação se tornam uma mesma coisa. Essencialmente, sua arte imita a vida em cima da vida.'

    Espero que goste:

    http://www.flickr.com/photos/alexameade

    Que seu dia seja de luz, querido amigo.

    ~*Rebeca*~

    -

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  7. Paulo, no começo do seu texto queria comentar logo e dizer pra vc que as coisas não são assim, que vc está errado e que essa amizade pode continuar, embora ele tenha se aposentado. Que a amizade perdura, que ela vence as novas diferenças e se fortalece em nós, mas... mas eu também concordo com você.
    Perdemos muitos amigos, ou melhor, perdemos muitas chances de continuarmos uma amizade porque a vida mudou o rumo, trocou de direção. Porque o cotidiano não é mais o mesmo.
    O almoço era o ponto, era o alimento, era o encontro dessa amizade linda. O local de trabalho era a garantia de ver todo o dia, de dividir histórias e vivências.
    Eu entendo você!
    Seu amigo não estará mais na hora do almoço com você e dizer que 27 km é logo ali...sabemos que não é. Ele foi em busca de novas coisas, outro ritmo, novos obkjetivos e você continua com os seus...
    Massssssssssssss...........houve uma amizade linda, guardade e lembrada em seu coração, uma ponta da sua história nesses anos, dentro dessa empresa e isso muda tudo. Vale à pena sempre; ainda que os caminhos separem nossos amigos de nossos olhos.
    Um beijo grande!

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  8. Um dia quero ter um amigo que sinta minha falta como vc sente do Lulu, rs.


    Olá querido amigo, como vai?
    Já estava com saudades de quase* conversarmos!

    Adoro vir aqui, parece quase ouvir sua voz. Adoro demais isso.

    Espero que ainda tenha muitos outros amigos ao seu lado... e que este que agora saiu do local de trabalho seja muito feliz.... Não é?


    Um grande e doce beijo! =)

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  9. Paulo,


    a amizade é mesmo encantadora, ela promove um elo indivisível, mesmo quando distantes do amigo ele é tão próximo como o coração no peito!

    Amei o texto poético para o seu amigo LULU!

    Despedir-se à Quintana é para poucos,Lulu deve ser mesmo especial!


    Um abraço, Marluce

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  10. Paulo,eu passando aki com mais calma.
    Td bom contigo?
    Estava com saudades de vir no sue cantinho.
    ótima crônica,me lembrou Luis Fernando Veríssimo.
    E que bela sua amizade.
    :D
    Tenha um ótimo final de semana
    :*

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  11. Olá!
    Lindo post de carinho e amizade.
    Saudades de sua preciosa presença em meu jardim.
    Espero que esteja tudo na santa paz.
    Tenha um lindo fim de semana.
    Com carinho, Lady.
    Bj

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  12. Hum , Mario Quintana, gosto dele...Suas palavras sempre me confortam.
    beijos

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  13. Paulinho,

    Belo texto para uma bela pessoa!
    Apesar de ter convivido pouco mais de um ano com o Lulu, sei que trata-se de uma pessoa extremamente talentosa, espontanea e carismática!
    Com certeza, para quem conviveu mais tempo, é uma dor imensa não o ter todos os dias em companhia, entretanto, é salutar ressaltar que a vida é feita de ciclos, e o ciclo do Lulu em nossa empresa encerrou-se naquele momento.
    Assim como outros colegas (cita-se Paulo Pavanello), o vínculo de amizade pode não ser o mesmo, tão próximo e tão intenso, mas com certeza pode ser celebrado em datas especiais e relembrados por muitos e muitos anos, até o momento em que Papai do Céu permitir.
    Parabéns pela mensagem, parabéns pela sincera amizade, parabéns por se dedicar tanto às pessoas com tanta sinceridade e coração aberto!
    Assim como Lulu, és uma pessoa admirável e que, com certeza, tem o carinho aqui demonstrado por ele, despertado em outras pessoas.

    Grande abraço,

    Gabriel Araujo

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