terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Velho que fala alto.

Algumas pessoas anônimas, às vezes, chamam a atenção da gente.

Assim, aconteceu comigo em um bar localizado no centro de Porto Alegre, na esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Demétrio Ribeiro, onde eu costumava jantar. É um bar muito frequentado por taxistas, e diga-se de passagem, esses profissionais sabem escolher os lugares onde come-se bem. Nesse bar ou lancheria, como queiram, além de petiscos e lanches como torradas e xis burguers, eles servem uns pratos rápidos como “A la Minutas” (arroz, ovo, feijão, fritas, bife e salada), carreteiro com feijão mexido, e um bife parmegiana, que são os meus preferidos. Frequentemente eu jantava lá, sendo que os pratos são muito baratos e deliciosos.

O lugar é um ambiente pequeno, simples, mas muito limpo, pois recentemente foi reformado.

Nesse estabelecimento, um homem aparentando uns 70 anos, chamou-me muita atenção, pois estava sempre presente no bar. Ele é careca, tem um bigode daqueles grandes que tapam a boca, e usa sempre camisas de Escolas de Samba de carnaval. Parece o ator do filme “Kojak”, e quem é dessa época vai se lembrar da figura a qual eu estou falando. Via-se que não era uma pessoa pobre, e sim de classe média.

Esse velho se acha o dono do bar, pois fala sempre muito alto, gesticula muito, e mexe com os motoristas na rua, fazendo comentários das “barberagens” dos mesmos na esquina, onde tem uma sinaleira. Parecia estar sempre alcoolizado, mas os donos do bar o conheciam e o tratavam com respeito.

O interessante é que em cem por cento das vezes em que eu frenquentei esse local, lá estava o velho sentado em uma mesa, ou na frente do bar, se achando o “dono do pedaço” e falando muito alto. Certa vez, quando eu não estava muito disposto, eu quase pedi que ele não gritasse muito, mas não o fiz para não criar confusão, e por achar que aquele espaço pertencia mais a ele do que qualquer outra pessoa.

Em um domingo desses, por volta do meio-dia, quando eu procurava um lugar para almoçar, fiquei impressionado quando passei na frente do referido estabelecimento, que estava fechado, e lá estava o velho com umas de suas camisetas de Escola de Samba, quando não estava com uma camiseta regata do Grêmio, sentado na porta do bar fechado.

Parecia que aquele bar era o seu mundo, seu espaço, seu território, e que estava guardando o bar, ou esperando que o mesmo abrisse.

Eu nunca soube o nome desse homem, se tinha família, mas o batizei de “o velho que fala alto”.

Uma figura forte, inusitada, e que era, realmente, o dono daquele território que não era o meu, mas que de uma certa forma, o velho permitia compartilhá-lo comigo.

Talvez eu sentisse falta quando fosse a esse local e não encontrasse o “velho que fala alto”, pois ele já era por mim considerado como parte integrante do bar.

Esse personagem associado ao sabor dos pratos servidos, é o segredo de um excelente jantar.

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