
Inicialmente, vou contar-lhes uma passagem que aconteceu, recentemente, comigo no trânsito:
Em uma manhã de domingo, sai de carro para almoçar em um restaurante que servem uns filés, simplesmente, deliciosos aqui em Porto Alegre. Quando estava na rua do restaurante, resolvi estacionar o carro em uma rua transversal próxima, pois havia menos carros, e seria mais tranquilo estacionar. A rua a qual eu vinha, a do restaurante, é uma via de mão dupla, porém, tem um faixa amarela contínua. Para quem conhece um pouco das leis de trânsito sabe que uma faixa contínua significa que não pode haver ultrapassagens, e é amarela para indicar que a via tem dois sentidos, senão a faixa seria branca, indicando via de mão única.
Voltando ao ocorrido, eu vinha pela rua, sinalizei com o pisca-pisca que iria fazer a conversão à esquerda, parei o carro bem à esquerda, junto a faixa contínua, olhei pelo retrovisor principal e vi que não vinha ninguém atrás, olhei pelo retrovisor lateral e também constatei a ausência de qualquer veículo vindo atrás, ou sequer ultrapassando irregularmente na faixa contínua, e iniciei a conversão, quando de repente ouvi uma batida forte na lateral no meu carro, à esquerda (lado do motorista), arrancando meu espelho retrovisor lateral, e batendo no paralamas dianteiro esquerdo do meu carro. A adernalina subiu, imediatamente, ao meu corpo, como era de se esperar. Logo vi que o carro que tinha colidido com o meu era um táxi. Parei, imediatamente, o carro, bem a direita da rua, e o táxi também parou, na minha frente. Desci do carro, e o taxista veio ao meu encontro com uma cara de apavorado, perguntando se eu tinha seguro. Apesar de ter seguro, respondi-lhe que não tinha, para evitar que ele propusesse pagar uma parte da franquia, já que ele estava completamente errado em ultrapassar em faixa contínua, em alta velocidade. Eu não o havia visto nos retrovisores, pois quando eu olhei, o carro dele já estava na lateral do meu, na zona invisível aos espelhos. Eu havia feito tudo certo, portanto, tinha a convicção de que o taxista tinha que pagar o conserto do meu carro. Iniciou-se uma pequena discussão, e eu perguntei-lhe como um profissional poderia tentar ultrapassar em faixa contínua, em alta velocidade, o que ele não soube me explicar. Quando ele viu que estava errado, dispensou as duas passageiras que transportava, pegando seus nomes e telefones para servirem de testemunhas a favor dele. Aí eu pensei: como pode as pessoas serem tão cínicas e irresponsáveis ao ponto de se oferecerem como testemunhas, mentindo, só porque achavam que eu tinha interrompido sua corrida, causando-lhes um transtorno em ter que pegar um outro táxi?
Enquanto aguardava a guarda municipal e a Brigada Militar (Polícia Militar do RS), fotografei o local, a faixa contínua, e os carros, com a câmera do meu celular, para comprovar como foi a batida, como uma forma de perícia, já que eu não tinha testemunhas. Tinha a certeza de que a forma como foi a batida diria mais sobre o ocorrido do que qualquer falsa testemunha do taxista.
Quando chegaram as polícias, o taxista mudou o discurso, dizendo que ele vinha no sentido certo e que eu vinha à direita dele, e que, simplesmente, eu tinha entrado à esquerda, cortando a frente dele para fazer uma conversão irregular à esquerda. Enlouqueci com aquela atitude do cafajeste. Comecei alterar-me, quando o policial chamou-me à atenção, e eu, imediatamente, me acalmei, pois não iria perder toda a minha razão pelo cinismo de um velho taxista idiota. Casualmente, havia uma oficina mecânica na esquina das ruas do local do ocorrido, sendo que o mecânico deu-me toda a razão, mas me disse que não serviria de testemunha, pois não queria perder tempo em se deslocar um dia ao Fórum. Perguntei ao mecânico, pela sua experiência, o quanto iria custar o conserto do meu carro, e ele me disse que não passaria de R$ 1.000,00 (Hum mil reais). Propus, então, ao taxista, que ele me desse R$ 500,00, e que eu consideraria o caso como encerrado, e ele me respondeu que eu é que lhe devia R$ 500,00. Nesse momento, vi que não havia nenhuma negociação com aquele infeliz. Após o registro de um Boletim de Ocorrência preliminar no local, dirigi-me à delegacia de polícia mais próxima para registrar o BO definitivo. No dia seguinte (segunda-feira), quando estava saindo do banho e preparava-me para ir ao trabalho, recebi um telefonema do taxista, já que no BO preliminar constavam todos os meus dados, inclusive, meu celular. Ele se apresentou, e disse que havia feito uma avaliação no carro dele, me propondo que deixássemos assim, ou seja, como cada um achava que tinha razão, que cada um pagasse seus prejuízos. Disse a ele que quem deveria pagar os prejuízos do meu carro era ele, já que no dele nada havia ocorrido, e que o acionaria na justiça. Levei o carro no mecânico, e o conserto foi orçado em R$ 930,00. Como já previa, o problema não era tanto o dinheiro, mas, sim, a incomodação, já que tive que perder quase um dia inteiro de trabalho para levar o carro no mecânico e ir ao Fórum Central para acionar o taxista idiota, no Juizado de Pequenas Causas. Talvez eu não consiga ser ressarcido, e tenha que entrar na justiça comum para tentar um possível ressarcimento, mas pelo menos vou incomodar esse infeliz, pois meu ressarcimento agora é mais moral do que financeiro.
Todo esse episódio que aconteceu comigo fez eu pensar mais profundamente sobre o problema do trânsito. Hoje, no Brasil existe um Código Nacional de Trânsito bem elaborado, as punições são muito severas, e as ruas e estradas são bem sinalizadas, porém, as infrações e mortes no trânsito são crescentes. Onde está o problema, então? Está no comportamento das pessoas. O trânsito nada mais é do que um compartilhamento de espaço entre as pessoas nas ruas, com carros. As pessoas não se respeitam. Disputam espaços de forma desrespeitosa e mal educada, assim como furam filas, e empurram-se quando estão a pé, em uma multidão. Cometem irregularidades no trânsito para levar vantagem de espaço sobre os outros. Ultrapassam na contramão ou pela direita, nas ruas, querem ocupar irregularmente o espaço dos outros, ultrapassam pelo acostamento ou fazem ultrapassagens perigosas nas estradas, trafegam em alta velocidade, desrespeitam uns aos outros, no sentido de ganharem espaços uns dos outros, através da infração. Colocam na direção de um carro todo o seu recalque e sua atitude maldosa regida pela famosa "Lei de Gerson", ou seja, a de "levar vantagem em tudo". Hoje, quando eu vejo um infeliz desses me cortar a frente do carro, ou levar vantagem de espaço de uma forma irregular, protejo-me, deixo-o passar, deixo ele pensar que foi esperto, com a certeza que isso o entusiasmará mais em prosseguir em sua infração, sabendo que logo ali na frente outro maluco como ele lhe dará o troco, batendo no seu carro, proporcionando-lhe o prejuízo merecido, pois ele será atingido na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Isso, quando ele não tiver outros prejuízos. Ele não vai escapar da vingança de outro louco como ele, e que eles se entendam, mas eu é que não vou entrar nessa.
O problema do trânsito é um problema de comportamento das pessoas, onde um quer sempre levar vantagem sobre o outro, nem que essa vantagem seja só um espaço físico. É a cultura do povo brasileiro, onde algumas pessoas não respeitam ninguém, nunca tiveram limites de seus pais, acham-se espertos, e pensam que tudo podem. É fácil ver a real personalidade de uma pessoa, simplesmente observando como ela se comporta no trânsito, guiando um carro.
Que os espertinhos de plantão paguem por suas irresponsabilidades, o que um dia será inevitável, mas que não envolvam pessoas inocentes, que tirem suas próprias vidas, mas não a dos outros.
O problema do trânsito é cultural e de comportamento. É um problema muito sério, pois mata mais que armas, balas perdidas, assaltos, ou seja, mata mais do que qualquer coisa.
Cabe a nós ensinar aos nossos filhos valores e educação, como por exemplo, ser gentil com as pessoas, oferecendo-lhes espaço, saber esperar a sua vez, essas coisas relativas a uma boa educação. Cabe, também, às Escolas do Ensino Fundamental passar esses valores, principalmente, abordar a questão de educação no trânsito, para que os futuros motoristas, em especial os filhos dos irresponsáveis, possam ter um pouco de educação, já que eles não tiveram em casa.
Eu sempre digo:
Educação não vem do estudo, vem de berço!