
Confesso que passei a gostar de viajar a passeio de uns anos para cá, pois sempre viajei muito a trabalho, e viajar sempre foi sinônimo de trabalho. Eu achava que era um dinheiro posto fora, pois ficavam só as lembranças, e você não tinha como recuperar esse investimento, pelo menos de uma forma tangível. Mas as pessoas mudam, e eu também mudei radicalmente minha opinião.
Planejo fazer muitos roteiros interessantes, e já tenho uma lista enorme deles. Muitos, com certeza, será com pessoas especiais, pois uma viagem passa a ter um significado diferente quando se está com as pessoas certas, na hora certa, no lugar certo. Assim, a viagem passa a ser um link na memória, e lembraremos dessas pessoas para sempre, e tudo será inesquecível para nós. Até mesmo na cidade em que vivemos, lugares ficarão imortalizados e terão um significado diferente, quando tivermos tido momentos inesquecíveis com uma pessoa especial, nesses lugares.
Existe uma infinidade de lugares no mundo e culturas diferentes para se conhecer. Alguns comuns, que a história e a mídia imortalizaram, e outros poucos comuns. Admito que os lugares pouco comuns me fascinam muito, ou seja, aqueles que poucas pessoas conhecem. Mas viajar, seja para onde for, faz bem para a alma de qualquer pessoa.
Gosto muito de ouvir histórias de viagens. Vejo como há uma diversidade enorme de opiniões sobre os lugares visitados. Alguns gostam de um determinado lugar, e outros decepcionam-se com os mesmos lugares. Tudo depende da pessoa que está viajando, da companhia, e do significado daquela viagem para nossas vidas. Já vi muitas pessoas dizerem que se decepcionaram ao visitarem o arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo. E outras, simplesmente, amaram. Onde está a diferença? Claro que não é em Fernando de Noronha, mas, sim, nas pessoas, no momento em que elas estão vivendo, e, principalmente, no olhar de cada um. Acho que aqueles que não gostaram do arquipélago, é porque planejaram mal a viagem. Alguns amigos que aproveitaram esta viagem na sua totalidade me contaram que somente 20% da beleza da ilha está na superfície, pois os outros 80% da sua beleza está no fundo do mar. Dizem que mergulhar na ilha é uma experiência indescritível. No local, a ilha tem toda uma infraestrutura para mergulho, equipamento, filmam e fotografam seu mergulho, bem como seu contato com a natureza, e que possui uma beleza sem igual. Entre outras aventuras que pretendo fazer, mergulhar é um sonho que eu tenho, e que vou realizar qualquer hora dessas. Já ouvi falar de outros lugares como Parati no Rio de Janeiro, ou das ilhas gregas, que também são paraísos submarinos, em que a beleza submersa é tão ou mais linda que a beleza na superfície.
Mas o queria contar hoje, nessa mesa de bar, é sobre uma viagem inusitada que um amigo e ex colega de empresa está fazendo, bem como a maneira pela qual nos encontramos, quando ele me contou da sua viagem, o que foi muito interessante. Eu estava caminhando pelo centro de Porto Alegre, e nos cruzamos, casualmente. Fazia três meses que ele estava aposentado, e disse que estava em viagem. Como ele poderia estar em viagem, se nos encontrávamos naquele momento? Imediatamente, convidei-o para tomar um café e me contar essa história.
Esse colega fez uma linda carreira na empresa em que eu trabalho. Trabalhamos juntos na engenharia, pois ele é arquiteto e eu engenheiro. Em sua trajetória profissional, chegou a ser Diretor de Tecnologia. Aposentou-se moço, e teve mais de um casamento. Em nenhum dos casamentos teve filhos. Antes de aposentar-se, teve seu último e mais recente casamento, da qual nasceu seu primeiro filho, um gurizinho, que sempre foi o seu sonho. Ele sempre gostou de velejar, e alguns anos atrás comprou um veleiro. Um barco grande, que possui uma cabine confortável, um pequeno apartamento de um dormitório. Pois bem, durante uns 5 anos antes da aposentadoria, aprendeu a velejar e velejou bastante, sempre nas águas do Rio Guaíba, aqui em Porto Alegre, e nas águas da Lagoa do Patos no RS. Pegou alguma experiência em navegação, e já tinha planos pós aposentadoria de fazer a sua viagem de sonhos.
Sentamos no café, e ele começou a me contar essa história de viagem. Disse que depois de se aposentar, pegou a mulher e o filhinho, embarcou no veleiro, e zarpou pelo Rio Guaíba, cruzando a Lagoa dos Patos, e entrando no Oceano Atlântico, através do Porto de Rio Grande/RS. Inicialmente, a viagem não teve paradas, e navegou alguns dias pela costa gaúcha e catarinense, até Florianópolis em Santa Catarina. Sua primeira parada foi em Florianópolis, onde ancorou seu barco, abasteceu com mantimentos, e visitou as 42 praias da ilha, e assim ele está viajando. Disse-me que já está no litoral do Rio de Janeiro, com seu barco ancorado, e que o destino final é Fernando de Noronha, sendo que a viagem de volta vai ser mais cansativa, pois vai voltar direto, ou melhor, com poucas paradas, só para abastecer o barco com mantimentos. Ele já está há meses viajando, acordando em alto mar, ou ancorado em alguma praia diferente desse nosso lindo litoral. Que maravilha isso! Aí eu perguntei o que ele estava fazendo em Porto Alegre, então? E ele me respondeu que seguidamente vem à POA, pelo menos uma vez por mês. Deixa seu barco ancorado em alguma praia do Brasil, pega algumas roupas, a mulher e o filhinho, e voa para Porto Alegre, para ver como está sua casa, e pagar algumas contas. Disse, também, que vai ficar uns 2 anos nessa "vidinha difícil", pois quando seu filho tiver 5 anos terá que ir para o colégio.
Quanto ao custo de vida nessas condições, ele me disse que não é nada exorbitante, que o mais caro são as passagens aéreas, já que ele viaja uma vez por mês de alguma parte do Brasil para Porto Alegre. Na verdade, o custo da viagem é como se ele e sua família estivessem vivendo em Porto Alegre, já que ele carrega sua casa para os lugares por onde anda. O investimento inicial foi do veleiro, que também é acessível para qualquer mortal, sendo comparado ao custo de um carro intermediário. É só ter o sonho e priorizar investimentos.
Conversamos mais um pouco, e nos despedimos. Eu voltei à minha rotina de trabalho, e ele à sua merecida aposentadoria.
E tem gente que não sabe o que fazer quando se aposenta. Claro que, quem não tem uma aposentadoria complementar, e tem que viver com a miséria do INSS na aposentadoria, já tem outra realidade. Mas isso valeria, quem sabe, um outro post.
Boa sorte, JR! Continue aproveitando bem o resto da sua vida, e boa viagem, meu amigo navegador!
P.S.: Para quem quiser acompanhar a viagem do meu amigo navegador, ele está fazendo um Diário de Bordo em forma de blog.
Acesse: http://veleiroeasygoing.blogspot.com